domingo, 5 de janeiro de 2014

Anseio

Mergulhado na noite escura, difícil era ver além das trevas e da escuridão. E então a lua era o sol para mim...
E então as nuvens eram o que mais colorido havia para minha visão.
Mas então veio você com seu brilho espetacular... Tão único que me fazia prender a respiração e serrar as pálpebras, tão desacostumado estava com essa luz.
Seus olhos pareciam mais intensas e lindas estrelas, maiores e melhores do que aquelas que eu costumava contemplar.
De onde vieste que não iluminaste meu caminho desde que nasci? Mas por que tua voz me fere como um punhal violento?
Por que tuas palavras parecem me tirar da ilusão que tão docemente criei para mim mesmo?
No silêncio da minha noite eterna eu era intocável... Mas nos murmúrios da tua manhã cálida me sinto vulnerável.
Pode o dia e a noite se encontrar para além dos segundos de sua vida e morte?
Podemos nós nos misturar e assim criarmos uma nova tela de cores, nem dia nem noite, apenas eu e você presos um ao outro como as trevas dependem da luz para existir?
Como posso me aproximar sem te ferir? Como posso te tocar se por tanto tempo afiei minhas garras para que causassem dor e não carinho...
Mas aí está você.
Sempre presente em meus sonhos, atento a minha dor, colocando-a acima da sua.
E então seus olhos passam a brilhar mais que tudo para mim e eu senti vontade, de mais uma vez... Voltar a ver o sol.

1/JAN/2010


Revirando algumas coisas antigas encontro isso. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Micantia


Enquanto ouvia palavras soltas cada vez mais sem sentido, que acabaram tornando-se murmúrios desconexos que me confundem mais ainda.
Na verdade, me sentia perdido, tinha medo de tudo aquilo e o que mais me espantava era que eu temia o desconhecido.
Eu estava sozinho... Novamente. E esta realidade trepida e explícita demais me afugentavam para aquela versão utópica de que tudo, tudo à minha volta, poderia ser diferente.
É como um choque, um choque que me espanta a cada instante que vacilo e me perco. Na realidade, parte de mim se manifesta em me resgatar, como se um outro eu me desse a mão.

Mas eu a deixo escapar e mergulho em minha louca armadilha.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fenestra - 1ª parte


Fresta:
1. Qualquer abertura estreita que permita a passagem de luz e ar; fenda, fisga, frincha.




“Eu estou aqui!” desejava gritar além dos olhos e mente o ser que observava como se estivesse em um retrato macabro pela fresta da parede deixada por capricho na casa daquela família tão perturbada. Quanto tempo mais iria vê-los sem confundi-los com seus próprios familiares que há essas horas deveriam estar dando falta de si, afinal, saíra para a conhecida cafeteria, pegar o cappuccino de sempre que acompanhava suas tardes... Perguntou-se também naquele mesmo instante em que via o filho dos donos da casa folhear as páginas em branco de um caderno, escrevendo do típico jeito torto de quem quer fugir uma despedida amarga e puro alívio, de quem chora a distância passada, imposta pela ignorância, tornar-se mais densa e longa agora que teria que abandonar tudo, onde estaria seu café e biscoitos? O vazio tomou conta e lembrou-se que nem a fome lhe fazia companhia.  Após sentir a escuridão abraçar-lhe depois da violência sofrida tudo se tornou um borrão e quando acordara vira-se dentro de um plástico que tomava conta de todo o seu corpo, como um embrulho para a viagem e a boca selada, os olhos fixos de pânico vendo o mundo fechar-se a sua volta.

Ele olhou para os lados, afinal sentia-se observado toda a vez que ia a peça, e secando as lagrimas que prometeu não mais derramar, ajeitou a mochila no braço e confiante saiu com o pé direito. Deixando para trás aquele passado e o perfume dos cabelos escuros e compridos invadirem a casa até a fresta onde a fragrância dissipou-se sobreposta à outra nada agradável.
O ser agradecia por cada vez que abriam mesmo que minimamente a porta de entrada, pois só assim poderia ver algo mais além daquela escuridão.
Depois um tempo passado e não computado, mais um integrante daquela família entrou pela porta, o mais novo dos filhos do casal com os mesmo cabelos compridos e pele doente do irmão. O garoto no auge da inocência dos seus sete anos grudou de imediato os olhos na figura do pai que os encarava com severidade e raiva tendo em mãos o papel rabiscado com letras que mesmo que a criança soubesse ler não consegui ver dali, pois gritos se sobrepuseram a sua curiosidade atípica.

“Porque ele foi embora Lu-” foi tudo o que pode ouvir até fechar a porta do quarto em um estrondo. Correu os olhos nas marcas do chão e mesmo sem ter lido as possíveis palavras rudes que o irmão deixou, no seu íntimo entendeu que estava mais do que na hora de se livrar daquilo, e olhando para o céu já estrelado indagou aos astros se não teria uma forma de tirá-lo de lá também.
“POR QUE LUDMILA?” o homem magro de olhos tristes e castanhos claros retornava a perguntar enquanto quebrava mais um jogo de copos que se intrometia em sua frente.
O ser ouvia com nitidez mais uma briga que ocorria na casa. Sentia seus ouvidos tremerem com os decibéis que a voz alta soava, passos de alguém que anda sem sair do lugar, em círculos também acompanhavam com o som molhado do sangue que escorria dos pés descalços sobre o tapete enfeitado com cacos de vidro. A mulher do outro lado da sala se retorcia incerta em parar com aquilo, mas a pancada dessa vez fora muito forte e todos ali se faziam perguntas, como se por brincadeira tivessem perdido algo ao mesmo tempo.
Kim ignorou a dor, só ela o acalmava e subiu as escadas, suas questões tinham que ser respondidas e nem que a dor a fizesse.  Não tinha o porquê, sempre quis proteger a todos que amava, mas todos iam e nunca voltavam. Por isso queria poder pregá-los no chão para nunca mais saírem.
Podia-se ouvir da fresta os corações batendo, como um martelo.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Barco das tentativas


A esperança é muito perigosa e sibila entre a comédia e a tragédia em vidas alheias. Ela dá alento nos momentos mais difíceis e logo tira o chão como que por brincadeira de pois de ter-nos agarrado a ela com tanto afinco.
Uma esquação simples retratando a vida como ela tem que ser. Não há outro modo de vivê-la, sem os trancos e barrancos, ou as pedras no caminho, não teria a mesma graça . Ultrapassar os desafios com vitória ou derrota até nos deixa mais fortes, mas quando a esperança nos é tirada, por qualquer coisa, de qualquer modo é deveras desolador.
É um dos subatantivos mais abstratos de qualquer língua e mais forte também. É como um suplemento tão revigorante para o espírito e creio que só os mais fortes tendem a não deixar esse sentimento tão revigorante e firme e também não esmorecer junto.
Posto isso, nós como reles seres humanos, tendo descontrole total dos sentimentos, embarcamos na velha música Tente outra vez.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DOG DAYS AREN'T OVER


Em um mundo onde o que se sente no interior de si não é importante, resta apenas, às vezes uma forma de se gritar, de pedir por ajuda. E em um lugar que apenas números importam, como encontrar compreensão em olhos vazios e mesquinhos? Em conversas e abraços efusivos onde apenas sua vida superficial e tola é que está em jogo. Estamos em um mundo cão, muito mais do que antes, todos se tornam cachorros a espera que um caia e que então a carniça seja finalmente aproveitada.
Apenas mascaram-se em simpatia, mas porque importar-se? É muito fácil julgar apenas o que é visto na frente, quando os fatos são mastigados e distorcidos são expostos; é muito mais fácil apontar o dedo no erro e sofrimento alheio, do que simplismente olhar-se no espelho e ver o quão feio interiormente se é.
Sim, você é feio. Quando você for velho, essa sua cútis tez será apenas um amontoado de rugas, então você será mais que nada, será merda pura. Isso na sua concepção superficial da vida, ou na concepção estúpida de adolescentes e adultos vazios e podres por dentro.
Pois é, é uma prisão invisível, mas o que fazer se é a única opção para algo dar certo? Aguentar, ou tentar já que as tentativas são falhas e trôpegas e desistir é visto como um ato covarde. É só uma forma de sair de fininho do palco, e ganhar os bastridores.
Bem-vindo aos dias de cão, se você estava achando que tudo era um conto de fadas. Finais felizes não existem, ou estão sacaneando o eu-lírico e adiando o quanto podem para tornar-se um triste final.

domingo, 23 de outubro de 2011

Vulnerável proteção


É normal temer uma dádiva dos céus? Temer somente em ouvir tal palavra pelo simples fato de não ter motivos para confiar nas pessoas?
A entrega é retardada enquanto puder, quem sabe assim também retardo meu sofrimento. Porque certeza da felicidade não temos, mas a dor está sempre garantida no final.
A descrença é que me move. no caráter dúbio das pessoas, em seu modo usurpador de sugar tudo o que há de bom em você, dar-te memórias divertidas para chorá-las depois, em um lapso esquecer-se de você, como se sua passagem na vida dela tivesse sido irrelevante. Porque qualquer pessoa é substituível e nos enganamos muito pensando que somos únicos. Existem muitos "únicos" em nossas vidas e machucar os outros tornou-se tão banal que fazê-lo virou rotina.
Mas esse nosso coração tão malditamente humano adora fazer brincadeiras para assim, errarmos e consequentemente – é o esperado – não soframos novamente, aquela coisa chamada esperança que nos faz acreditar que o "para sempre" existe e nos doamos aos sentimentos mais contraditórios e seguindo o ciclo, chega uma hora que ser posto de lado quando mais se espera daquele relacionamento cansa seu coração e mente e como proteção, fechar-se para esse mundo que só muda para pior é a única saída, o único modo que se vê para tentar apaziguar a dor latente que nos consome.

sábado, 22 de outubro de 2011

Escapar


Abriu os olhos escuros tentando se acostumar com a claridade nem tão bem-vinda no quarto grande que se torna pequeno ocupado pelas lembranças do dono espalhadas em todos os cantos.

Mais acostumado saiu da cama sentindo o frio do piso de madeira mais reforçado pelo inverno castigante e seguiu o cheiro doce daquelas tão adoradas panquecas. Desceu as escadas correndo, passou pela sala intacta e parou na  porta da cozinha tão aconchegante há algum tempo.

Chegou a ouvir as risadas calorosas e os cumprimentos verdadeiros a mesa do café. Mergulhado em recordações foi interrompido pelo tic-tac do relógio e deixou o peso da realidade cair-lhe sobre os ombros.
Voltou a abrir os olhos vendo a diferença do que deixou escapar por egoísmo: a cozinha vazia e escura, sem ninguém. Encostou-se na porta odiando-se por ter caído novamente naquelas alucinações assombrosas que teimavam em acompanhá-lo mesmo depois de tanto tempo.
Já no quarto plenamente escuro e sentou na cama desarrumada. Não precisava de luz, já decorara o caminho para se libertar daquela realidade massacrante e solitária. Depois emergiu no sono eterno.