sábado, 22 de outubro de 2011

Escapar


Abriu os olhos escuros tentando se acostumar com a claridade nem tão bem-vinda no quarto grande que se torna pequeno ocupado pelas lembranças do dono espalhadas em todos os cantos.

Mais acostumado saiu da cama sentindo o frio do piso de madeira mais reforçado pelo inverno castigante e seguiu o cheiro doce daquelas tão adoradas panquecas. Desceu as escadas correndo, passou pela sala intacta e parou na  porta da cozinha tão aconchegante há algum tempo.

Chegou a ouvir as risadas calorosas e os cumprimentos verdadeiros a mesa do café. Mergulhado em recordações foi interrompido pelo tic-tac do relógio e deixou o peso da realidade cair-lhe sobre os ombros.
Voltou a abrir os olhos vendo a diferença do que deixou escapar por egoísmo: a cozinha vazia e escura, sem ninguém. Encostou-se na porta odiando-se por ter caído novamente naquelas alucinações assombrosas que teimavam em acompanhá-lo mesmo depois de tanto tempo.
Já no quarto plenamente escuro e sentou na cama desarrumada. Não precisava de luz, já decorara o caminho para se libertar daquela realidade massacrante e solitária. Depois emergiu no sono eterno.

0 comentários: