sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Remmington Street

Entregar-se àqueles desconhecidos braços era uma forma infantil de esquecer-se daqueles característicos que um dia o envolveu, mas que levianamente se viu sem.

Todo aquele doloroso esforço era ridiculamente esquecido ao passar por aquela rua tão aconchegante e familiar, cheia de árvores a dor sombras e enfeitar a calçada neste outono tão mais frio que todos vividos até ali, e tão solitário, por onde passa com um olhar desolado fitando a grande casa verde com mosaicos adornando suas grandes janelas tão características dele.

O vento gelado beijou-lhe a face acordando do transe instantâneo que as recordações lhe punham. Olhou para o lado e sorriu reconhecendo a figura alta e morena de seu amigo corretor que se aproximava com um embrulho em mãos.

"Não quer voltar para cá?", perguntou o amigo.

"Não, essa rua me traz muitas lembranças" respondeu Valentin deixando o silêncio tomar conta. Apontou como os dedos trêmulos para o canteiro florido que ele cultivava, velando a mãos aos lábios igualmente trêmulos sendo molhada pelas lágrimas silenciosas que desciam enquanto via o amigo pregar a placa de 'vende-se' na casa que um dia foi sua, em que viveu intensamente seu amor.

Deixou o local e junto tudo o que viveu na Rua Remmington.

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